Palavras que inscrevem nossa história: viagens e memórias no curso de Formação de Professores da rede municipal de ensino em Irecê
Meados de 2003. O avião
sobrevoa os céus de Irecê. É sinal de concretização. Meu sonho está prestes a
se realizar! Além dos planfletos vindos do céu, também as emissoras de rádio
locais anunciam a implantação do Curso de Formação de Professores pela FACED da Universidade Federal da Bahia.
Tenho as minhas dúvidas, e chego a dizer em bom tom: isso é mais um engodo. É
conversa furada, é mais um golpe para enganar os professores. Hoje não diria
isso! Mas coitada, era desinformada, não entendia muito de lei. (Vera Vasconcelos, 2006).
Estas são as palavras iniciais de um dos Memoriais
de Formação, trabalhos de final de curso da Licenciatura em Pedagogia do
Projeto Irecê. Um curso que arriscou atualizar na prática pedagógica as teorizações
que permitem que as micronarrativas ¾ as histórias para serem contadas ¾
ganhem espaço e status de ciência. Segundo Vattimo (1996), a imagem da história
que nós temos é toda ela condicionada pelas regras de um gênero literário; em
suma, a história é muito mais uma ‘estória’, um relato; daí a crescente
incredulidade diante da História única.
Por este viés, descobre-se, ou redescobre-se, que
as pessoas entendem melhor suas histórias que estranhos, e “cada sociedade ou
mais exatamente, cada conjunto civilizacional tem necessidade de se contar uma
história que lhe permite ser o que é.” (MAFFESOLI, 1996, p. 96).
Temos, então, muitas histórias para serem contadas,
com a valorização da memória, principalmente, a social e popular.
Memórias, que, muitas vezes, parecem estar
aprisionadas no tempo/espaço do “ontem”, mas quando narradas misturam-se ao
nosso “hoje”. Refletir sobre as nossas memórias é, portanto, refletir sobre
nosso processo formativo – pessoal e profissional -, no tempo e no espaço.
Fica, então, um convite à reflexão. Que histórias nos tornaram professores?
E é à narrativa que recorremos para a construção
deste texto produzido por três coordenadoras/orientadoras do Projeto Irecê. Uma
narrativa que vem a ser um jogo entre o que esquecer,
o que lembrar e o que falar que, embasado em vestígios concretos, resultou na
história aqui contada.
A nossa história
O início
Em novembro de 2003, após intenso trabalho
teórico/burocrático de quase dois anos de duração, iniciamos, com o processo seletivo,
nossa jornada de viagens para concretizar a ação conveniada entre a Faculdade
de Educação da UFBA e a Prefeitura Municipal de Irecê, para o desenvolvimento
do Programa de Formação Continuada de Formação de Professores UFBA/IRECÊ.
Sabíamos que esse desafio nos levaria a um amplo
processo de aprendizagem, e isto incluía todos os deslocamentos – do físico
(com a viagem entre Salvador e Irecê), ao conceitual (nas diversas concepções
de educação que encontraríamos). Seria uma verdadeira viagem, pois
Toda viagem se destina a ultrapassar fronteiras, tanto dissolvendo-as
como recriando-as. Ao mesmo tempo que demarca diferenças, singularidades ou
alteridades, demarca semelhanças, continuidades, ressonâncias. Tanto
singulariza como universaliza (...). No mesmo curso da travessia, ao mesmo
tempo que se recriam identidades, proliferam diversidades. Sob vários aspectos,
a viagem desvenda alteridades, recria identidade, descortina pluralidades. (IANNI, 2001, p.14).
Marcea A. Sales Maria Inez S. S. Carvalho Maria Roseli G. B. de Sá
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